Se as ações de impacto só trazem benefícios, tanto para a sociedade como para as empresas, por que ainda não são ampla e seriamente adotadas?

O capitalismo, como sistema econômico predominante, é frequentemente admirado por sua capacidade de gerar riqueza, promover inovação e impulsionar o crescimento econômico. No entanto, por outro lado, ele se baseia em crescimento ilimitado, num planeta finito e que beneficia um pequeno número de pessoas. Dentre os maiores desafios do capitalismo estão mitigar a desigualdade social, a exploração do trabalho, a degradação ambiental e a instabilidade econômica.

Com o avanço do capitalismo e da globalização, o desafio do Estado se torna cada vez maior. Muitos governantes priorizam as ações fundamentais do Estado (educação, saúde, segurança etc), o que faz todo o sentido, ao mesmo tempo que reduzem o tamanho da sua estrutura por não conseguirem atuar em muitas áreas ao mesmo tempo. Dentro desse contexto, de avanço do capitalismo e dos seus efeitos negativos e da diminuição do Estado, os gestores das empresas têm um papel fundamental para construção de uma sociedade mais justa e ambientalmente sustentável.

As empresas não são apenas entidades econômicas, mas podem e devem dar uma contribuição significativa para a sociedade. Os gestores conscientes podem e devem promover o desenvolvimento sustentável, ou seja, equilibrar o crescimento econômico com a preservação ambiental e a justiça social.

As empresas que adotam essas práticas, também conhecidas como ações de impacto positivo, reconhecem que têm obrigações não apenas com os seus acionistas, mas também com os seus colaboradores, clientes, comunidades locais e o meio ambiente.

Não se trata de mais um modismo. Atualmente, já podemos analisar o resultado real de várias dessas empresas, como por exemplo:

Unilever – é uma empresa multinacional que, desde 2012, vem adotando práticas de sustentabilidade em larga escala, conforme o seu plano de Sustentabilidade (USLP), adotando metas claras e ambiciosas para reduzir o seu impacto ambiental, melhorar a saúde e o bem-estar de mais de um bilhão de pessoas e melhorar as condições de vida de milhões de pessoas em suas cadeias de suprimento.

Natura – é uma empresa brasileira de cosméticos que, desde 2007, tem um forte compromisso com a sustentabilidade e com a responsabilidade social. Ela utiliza ingredientes naturais e de origem sustentável, promove o comércio justo e investe em projetos de preservação ambiental na Amazônia, além de ser carbono zero.

Catarina Mina – é uma empresa de moda e design cearense que, desde 2015, se destaca pelo seu compromisso com a sustentabilidade e a valorização do trabalho artesanal. A marca, que hoje é nacional, tem como principal objetivo promover a economia circular, a responsabilidade social, a valorização da mulher e do artesanato, além da transparência (custos abertos). Atualmente impacta direta e indiretamente mais de 980 pessoas.

Outras instituições dão suporte ao ecossistema de impacto positivo e fazem a ponte entre as médias e grandes empresas (que querem impactar positivamente), com os projetos socioambientais (que necessitam desse apoio). É o caso da SOMOS UM que, desde 2010, atua como articuladora de impacto positivo, com foco especial na Região Nordeste. Vale ressaltar que não se tratam de projetos assistenciais (que também são importantes), mas de projetos autossustentáveis financeiramente.

Muitas dessas empresas são certificadas B Corp e atendem aos mais altos padrões de desempenho social e ambiental, transparência e responsabilidade legal.

Atualmente há aproximadamente 300 empresas certificadas B Corp no Brasil (do total de 1.400.000 empresas de médio e grande Porte).
Além de afetar a sociedade de uma forma geral, as ações de impacto positivo afetam a empresa de forma particular, especialmente no que se refere à melhoria da integração e do engajamento dos colaboradores, do clima organizacional e da imagem da empresa junto à sociedade e clientes (para citar apenas alguns benefícios).

Além de apresentar o conceito de empresa de impacto positivo, a questão central desse Artigo é provocar a seguinte reflexão: se as ações de impacto positivo só trazem benefícios, tanto para a sociedade como para as próprias empresas, por que ainda não são ampla e seriamente adotadas?

” Além de afetar a sociedade de uma forma geral, as ações de Impacto Positivo afetam a empresa de forma particular “

REFERENCIAS:
POLMAN, PAUL; WINSTON, ANDREW. IMPACTO POSITIVO (NET POSITIVE): COMO EMPRESAS CORAJOSAS PROSPERAM DANDO MAIS DO QUE TIRAM. SEXTANTE, 2022. PORTFÓLIO DA SOMOS UM. DISPONÍVEL EM: HTTPS://WWW.SOMOSUMCE.COM.BR/
PORTFÓLIO DO SISTEMA B. DISPONÍVEL EM: HTTPS://SISTEMABBRASIL.ORG/
RELATÓRIO DE IMPACTO CATARINA MINA 2023. DISPONÍVEL EM: HTTPS://WWW.CATARINAMINA.COM/P/TRANSPARENCIA
RELATÓRIO INTEGRADO NATURA & CO 2023. DISPONÍVEL EM: HTTPS://WWW.NATURA.COM.BR/RELATORIO-ANUAL RELATÓRIO DE SUSTENTABILIDADE UNILEVER. DISPONÍVEL EM HTTPS://WWW.UNILEVER.COM.BR/SUSTAINABILITY/
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Autor: Paulo Pinho
Doutor e Mestre em Administração, Professor do Curso de Administração da Unifor e Pós-Unifor, Professor e Consultor da FIEC/IEL, com mais de 32 anos de experiência na área de Gestão Estratégica Orientada para Resultados.