O mundo corporativo contemporâneo é caracterizado por um ambiente de mudanças constantes e imprevisíveis. Tecnologias emergentes, alterações regulatórias, flutuações econômicas e mudanças nos padrões de consumo são apenas alguns dos fatores que contribuem para um cenário de incerteza.

Nesse contexto de incerteza, muitos gestores questionam a viabilidade do planejamento de longo prazo. É natural que os empreendedores e gestores fiquem angustiados e ansiosos em momentos de crise e de incerteza. É comum ouvirmos gestores, especialmente na área de TIC e de startups, defendendo a tese de que “no atual momento de incerteza é impossível planejar a médio e longo prazo”.

É fácil concordar com esses gestores, pois há realmente muitas variáveis incontroláveis envolvidas e que a única certeza é a incerteza. Afinal, quem poderia prever a pandemia do COVID19? E as guerras da Russia – Ucrânia, e Hamas – Israel? E as várias crises econômicas mundiais? As diversas crises que ocorreram no Brasil?

Será mesmo que, diante da incerteza, a melhor alternativa é abandonar o Planejamento de longo prazo?

Por outro lado, também é comum ouvirmos “especialistas” afirmando que o caminho para combater a incerteza é seguir as “megatendências”, como por exemplo “transformar os negócios analógicos em digitais”. Ora, se a digitalização dos negócios é uma “megatendência”, esta deve ser tratada como “inquestionável”. Mas será que essas “fórmulas mágicas”, baseadas nas megatendências, são adequadas para todas as empresas?

Outra grande “verdade absoluta” que merece reflexão é a da era “ágil”. No mundo corrido, que marca a nossa atualidade, não há tempo para pensar, refletir e planejar, especialmente considerando o longo prazo. O importante hoje é realizar projetos. O problema não é realizar projetos (que são fundamentais), a questão é que muitos desses projetos, devido à urgência, não são analisados com o nível de profundidade necessário. Na verdade, os gestores são muitas vezes cobrados a demonstrar para os outros e/ou para si mesmos que estão realizando alguma coisa, que não estão parados. Não seria mais produtivo focar em projetos que sejam realmente necessários e que possam trazer impactos relevantes para a instituição?

Então, o que os gestores deveriam fazer neste momento de incerteza? Abandonar o “planejamento de longo prazo”? Na nossa opinião, a alternativa de abandonar o “planejamento de longo prazo” e sair para a “Ação”, para o “Fazejamento”, sem aprofundamento, debate e reflexão, é uma insanidade, além de uma perda de tempo e de dinheiro. Nos momentos de incerteza e de crise os gestores precisam investir no Pensamento Estratégico e no Plano de Longo Prazo.

É fundamental relembrar que Pensamento Estratégico é o ato de “refletir e planejar o futuro da empresa”. É analisar continuamente o ambiente (externo e interno), prever cenários futuros e alternativos, definir objetivos e metas, estruturar projetos, modelar processos e desenvolver as competências dos colaboradores para que a empresa aproveite as oportunidades.

Para pensar o futuro da empresa não é necessário o desenvolvimento de um plano estratégico sofisticado, complexo e caro. Fazemos parte da corrente que defende a adoção de planos formais, com um nível adequado de aprofundamento, porém com o uso de metodologias simples, participativas, e que alinhem objetivos, metas, projetos e planos com todos os colaboradores da empresa. Portanto, adotar um modelo formal de planejamento traz sempre mais pontos positivos do que negativos.

Acreditamos também que, mesmo em momentos de incertezas e crises, devem ser considerados os diversos horizontes do planejamento. A curto prazo os gestores precisam atuar no que é emergencial para a sobrevivência do negócio (aumentar receitas, readequar o fluxo de caixa, rever o orçamento, reduzir custos, renegociar contratos, dívidas etc). A médio e longo prazo devem pensar em projetos estruturantes que preparem a empresa para o futuro planejado. Esses planos são apenas orientações, que devem ser alterados sempre que houver necessidade.

O papel dos gestores é fazer com que a estratégia da empresa seja realizada. Mas se a empresa não possui uma estratégica clara, o que fazer? Investir em planos de longo prazo, profunda e seriamente, é no que sinceramente acreditamos e o que sugerimos aos gestores e empreendedores.

Enfim, voltando à questão inicial: planejamento de longo prazo? Sim. Sempre. Basta analisar os famosos e bem-sucedidos empreendedores, que sempre pensaram os seus negócios no longo prazo.

O planejamento a longo prazo permanece viável e essencial mesmo em momentos de mudanças constantes, desde que incorporada a adaptabilidade e flexibilidade. Empresas que adotam uma abordagem dinâmica para o planejamento estratégico estão mais bem posicionadas para navegar pela incerteza e prosperar em um ambiente em constante evolução. Portanto, a chave para o sucesso reside não em abandonar o planejamento a longo prazo, mas em transformá-lo em um processo contínuo e adaptável que permita à organização evoluir junto com o mundo ao seu redor.

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Autor: Paulo Pinho
Doutor e Mestre em Administração, Professor do Curso de Administração da Unifor e Pós-Unifor, Professor e Consultor da FIEC/IEL, com mais de 32 anos de experiência na área de Gestão Estratégica Orientada para Resultados.